sábado, 15 de fevereiro de 2020

Alvará



ALVARÁ

Um amigo radicado em Búzios, oriundo de uma cidade da Região dos lagos no Estado do Rio de Janeiro, me contou uma história sobre um conterrâneo que adorava puxar saco de políticos, era do tipo que quando tinha que sair de perto de algum político ia logo dizendo:
- Olha aqui minha liderança, se depois que eu não estiver mais aqui, e o senhor espirrar, saúde está bom?
Na verdade o cara era um chato. Um verdadeiro papagaio de pirata. Ia todo o dia pela manhã bem cedo à prefeitura para ser o primeiro a dar um bom dia para o prefeito, passava em todas as secretarias e encerrava a sessão de puxa-saquismo na Câmara de gabinete em gabinete abraçando todos os vereadores, fossem situação ou oposição.
De tanto encher o saco de todo mundo, pedindo emprego, num determinado dia um secretário conversou com o prefeito e conseguiu um cargo para o cidadão para ver se assim teriam um pouco de sossego já que funcionário público é o que menos gosta do seu local de trabalho. Mas o problema maior estava por vir quando descobriram que o cidadão não sabia ler. A solução encontrada depois de uma reunião foi que a melhor coisa a fazer era dar um cargo qualquer para ele e estava resolvido, o problema era que ninguém queria ter o cidadão por perto, e resolveram contratá-lo como motorista embora o dito cujo não soubesse nem andar de bicicleta quanto mais dirigir qualquer tipo de veículo motorizado.
O cidadão era uma alegria só, andava pela cidade com a carteira no bolso da camisa com o brasão da prefeitura virado para fora para que todos pudessem identificar a “otoridade” como o próprio se achava.
Um dia o sujeito passando pelo mercado de peixes resolveu testar sua otoridade perante os comerciantes ao parar em frente a uma barraca que vendia camarão. Mostrando o brasão da prefeitura para o vendedor ele foi logo dizendo:
- Cadê o “Alvaral” O certo seria alvará.
- Não tenho não moço. Respondeu o vendedor.  - O quê? Não tem “Alvaral”. Então me dá dois quilos desse camarão, mas, semana que vem tem que ter o “Alvaral”.
E assim foram durante umas três semanas. Camarão de um, peixe de outro, mariscos, siris e até lagostas. Até que um dos vendedores, achando que o sujeito já estava abusando, resolveu ir à prefeitura para denunciar o “Fiscal” sobre o que ele estava fazendo, e que para sua surpresa os funcionários da prefeitura morreram de rir com a estória dizendo em seguida que ele não era fiscal de nada. O sujeito foi embora furioso e também ansioso para contar sua descoberta para os seus colegas.  Ao ficarem sabendo do acontecido, todos ficaram revoltados e resolveram dar uma lição no falso fiscal na próxima vez que ele aparecesse. O que aconteceu três dias depois num sábado.
O folgado chegou, olhou, e saiu andando no meio das barracas e em seguida parou em frente a uma barraca e foi logo dizendo:
- Já vi que não tem “Alvaral”.
Essa foi à senha para os barraqueiros caírem de porrada em cima do “Fiscal” que quando conseguiu se livrar da turba enfurecida saiu correndo todo torto e nunca mais apareceu na Prefeitura, findando assim da sua brilhante carreira de Puxa-Saco.




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