O Soldado Rafael

SOLDADO RAFAEL

Rafael entrava no quartel pela manhã e já ia dizendo:

- A paz do senhor meus irmãos, e que Deus esteja em todos nós.

 - E com certeza ele hoje vai operar milagres em nossos corações.

Uns retribuíam com a paz do senhor, outros com, bom dia Rafael e alguns apenas murmuravam alguma coisa.

Devido a sua fé e por ser um membro de uma Igreja Evangélica, a grande maioria não queriam participar de alguma missão e nem tirar serviço com ele, já que enquanto todos andavam super armados ele simplesmente andava com um revolver 38 velho e às vezes até sem munição. Dizem que em algumas incursões em favelas ele foi flagrado distribuindo mensagens evangélicas e convidando a sair daquela vida e aceitar Jesus os detidos para averiguações.

Toda vez que ia ter uma operação em algum ponto, os caras falavam logo:

- Com Rafael eu não vou.

Um dia o comandante resolveu chamar o irmão Rafael para uma conversa. E foi logo dizendo:

- Soldado Rafael, você está me causando problemas com a tropa aqui no quartel com essa estória que a bíblia é sua arma, mas precisamente é a sua espada. Como vai ficar a sua situação e dos seus colegas de farda quando você for obrigado a ter que atirar para salvar a vida sua e deles? Vai jogar a bíblia em cima dos bandidos?

- Mas coronel, saiba o senhor que eu oro o tempo todo para não ter confronto, para não ter vitimas de ambos os lados, e nestes seis meses que estou aqui, com certeza devido as minhas orações eu acho que diminuiu muito os mortos e feridos. Sua desculpa não comoveu o coronel e foi transferido na semana seguinte para uma cidade do interior onde nem ladrão de galinha existia.

No segundo dia de plantão entrou uma turma no DPO pedindo ajuda para matar um cachorro que aparentava estar com raiva, e em uma rua próxima ameaçava atacar todo mundo. E lá se foi o Rafael.

Depois de orar para Deus tirar o demônio que estava tomando conta do cachorro, o que deixava ainda mais raivoso quando tentava se aproximar resolveu afastar o povo porque a coisa era mais seria do que pensava e sacou o tresoitão, e a uns dez metros de distancia mirou e atirou, atirou e atirou.

Nenhum tiro passou a menos de três metros do cão, o que fez a turba enfurecida cair de pauladas no cachorro.