BURRO SEM RABO
- Ferro velho. - Compro Ferro Velho.
- Compro cobre, alumínio, chumbo e latão.
- E também faço frete de qualquer móvel de cama, geladeira e fogão
Todos os dias ele acordava bem cedo. Seu barraco que ficava embaixo de uma frondosa mangueira que era testemunha de sua saída todas as manhãs puxando sua carroça conhecida com burro sem rabo juntamente com seuscinco cachorros vira-latas.
Na verdade ele não comprava era quase nada, ele era um catador de ferro velho que andava pelo bairro o dia inteiro fazendo pequenos serviços em troca de materiais que pudesse vender e faturar algum trocado.
Ninguém sabia de onde ele tinha vindo. Uns diziam que ele tinha sido um bandido perigoso quando jovem, outro tinha dito que foi traído pela mulher e foi morar longe com vergonha dos parentes e conhecidos, e chegaram também a dizer que era um milionário falido. Mas a verdade era que ninguém sabia nada, já que aquele velho era incapaz de responder qualquer pergunta sobre a vida dele.
Passaram-se anos, bebes viraram crianças, crianças adolescentes e adolescentes adultos. E o velho cada vez mais velho. Seus gritos já não eram tão fortes e seus passos estavam cada vez mais lentos, seus vira-latas tinham morrido, mas deixado herdeiros para o velho.
Um dia ninguém ouviu ecoar pela rua os gritos do velho e tampouco o seu pedido tradicional de – Me empresta um cafezinho, ao espanhol dono de uma mercearia da esquina.
Lá pelo meio dia algumas pessoas resolveram ir ao barraco do velho para saber o que estava acontecendo. O velho estava passando mal e imediatamente chamaram uma ambulância que o levou ao hospital e ele veio a falecer dois dias depois.
Como ninguém nunca soube de parentes, alguém deu a idéia de dividir as despesas e fazer um funeral decente em vez de enterrá-lo como indigente, mas sem antes darem uma boa olhada no barraco para ver se conseguiam descobrir algo sobre o seu passado.
Depois de vasculhar o pequeno barraco, descobriram debaixo da cama uma pequena caixa feita com restos de caixotes cheia de cédulas de dinheiro juntado pelo velho nos últimos quarenta anos. Dinheiro fora de circulação, moedas, muitas moedas, que mesmo se vendessem as cédulas e a moedas, não dariam para pagar o enterro.
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