segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A PEÇA

Às vezes as nossas amizades são como personagens que nos colocam a margem de uma peça de teatro ou mesmo um filme já que a arte imita a vida.
Em uma temporada que passei na Ilha do Mel, no estado do Paraná tive uma experiência incrível ao conviver por uma semana com um determinado grupo de pessoas de diferentes níveis e profissões. No grupo tinha médico, atriz, professora de dança, mecânico, ecologista e uma estudante de direito que trabalhava com vendedora para pagar os estudos.
Dois dias antes da dissolução do grupo, já que cada um iria voltar para sua cidade ou estado de origem, foi programada uma festa de despedida.  Com direito a fogueira e muita Tainha assada na brasa, já que no mês de maio a pesca da tainha estava no auge.
A festa iniciou depois do por do sol, onde a temperatura já estava em 12 graus, e com certeza prometia naquela noite bater os 3 graus tranquilamente.
Lá pelas tantas da madrugada, onde o álcool já fazia efeito às mascaras começaram a cair, onde cada um contava sua estória como se assim fosse para aliviar um pouco a dor, ou remorso, partilhar um sonho ou decepção e até revelar segredos que seriam talvez esquecidos no dia seguinte ou simplesmente nunca seriam descobertos com a partida de todos. Afinal todos iriam seguir suas vidas e não se encontrariam mais.
O médico carregava uma dor por achar que um paciente morreu por erro dele.
A atriz por ter tido um grande problema com drogas não conseguia mais trabalho, a não serem propostas de programas sexuais.
A professora de dança tinha uma frustração por não ter ido estudar balé na Europa quando teve chance, por causa de um namorado que depois de alguns poucos anos abandonou-a.
O mecânico tinha sido dono de uma grande oficina, mas um dia foi preso e acusado de desmanchar carros roubados. Cumpriu dois anos de cadeia e quando saiu, a mulher que foi sua primeira namorada pediu divórcio, já tinha arrumado outro homem.
O ecologista tinha fundado uma ONG para combater desmatamentos no Pará, e foi denunciado por um grupo de madeireiros de ter levado uma quantia grande em dinheiro de um grupo, para simplesmente fazer vista grossa para uma área que estava sendo devastada. E não teve como provar ao contrario, já que a tal quantia tinha sido depositada na conta da ONG.
A estudante, por ser mulata tinha sofrido preconceito racial tanto no trabalho como na faculdade, mas o preconceito maior estava na sua casa por ter um namorado muito branco e seus pais não concordarem.
E eu, estava ali para curar a feridas em meu peito causadas por um grande desamor.


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