quarta-feira, 10 de agosto de 2011


   SEIS PASTÉIS E UM REFRIGERANTE

Um cidadão quando é apenas comum, é quase invisível perante a sociedade. Mas quando obtém algum sucesso, seja na música, no futebol ou na política, torna-se uma celebridade. O cara pode ser mais feio do que mudança de pobre, menos inteligente que uma galinha e mais sujo que pau de galinheiro. Mas alcançou sucesso fica lindo, limpo e inteligente.
Havia um sujeito, morador da periferia daquela cidade que era mais ou menos invisível, só não era mais, devido chamar muito a atenção para si quando resolvia tomar todas. E tem um detalhe: O cara tomava um maior porre à custa dos outros. Pedia para todos os amigos que cruzavam seu caminho para pagar uma cachacinha e acabava completamente bêbado no fim do dia.
Passado um tempo, certos políticos acharam que podiam conseguir algum ganho político naquele bairro, devido à popularidade cada vez maior e com uma pequena liderança exercida pelo Bebum. E resolveram investir nele.
A princípio queriam dar uma repaginada no sujeito, mas ele não concordou. Dizia que todo mundo gostava dele daquele jeito, andando de camiseta, bermuda e chinelos, sempre fumando aquele cigarro mata rato, e bebendo daquela cachaça mais barata que fazia o depois de cada talagada cuspir no chão. E não ia mudar. Mas aceitou um único pedido, que foi aprender dirigir, e a dirigir mal demais.
Passados alguns anos e várias tentativas frustradas de se eleger vereador, finalmente conseguiu. Com poucos votos, mas se elegeu. Agora era um nobre Edil. Uma excelência.
O antes rejeitado agora era convidado para todas as festas. Foi chamado para ser padrinho de dezenas de crianças. Não podia sair na rua que aparecia gente de todos os lados para lhe pagar uma cachacinha, e como ele não era de recusar, acabava tomando três porres, um pela manhã, um de tarde e um a noite.
Nada tinha mudado em sua vida até a chegada de um carro zero km, que dizem ter sido presente de um empresário. Aí, de carro na mão, com um polpudo salário mais ajuda de custo para gasolina e diária paga quando se ausentasse do Município. O cara tinha ganhado a vida que sempre quis, e iria aproveitá-la o máximo.
Passava o dia nos quiosques das melhores praias da cidade, e a noite freqüentava os melhores bares, restaurantes e boates. Sempre acompanhado de belas mulheres, em sua maioria mulatas que eram as preferidas.   Que depois dos comes e bebes largavam o sujeito a ver navios. Mas ele de tanto insistir uma delas acabou aceitando ficar. Virou a “Segunda Dama” já que o sujeito era casado, embora fosse mais fácil ver o sujeito segurando uma cabeça de bacalhau ou indo ao enterro de anão do que ver ele com a mulher.
Agora o sujeito era um homem quase sério, aonde ia levava a segunda dama a tiracolo. Fosse a algum compromisso oficial fora do Município, ou para beber uma cachacinha no bar. Mas o que na verdade ele gostava mesmo era de ir a praia comer camarões, peixes e lulas com sua namorada.
Mas em um determinado dia a “Primeira Dama” cansada de ouvir comentários sobre as puladas de cerca do Excelentíssimo marido, resolveu apertar o sujeito para levá-la também a participar das dezenas de reuniões diárias agendadas.  E o sujeito com medo de ter sua liberdade controlada pela mulher, resolveu fazer um programa em família. Num domingo de sol resolveu levar à mulher e os dois netos a praia que mais gostava.  
Chegando lá foi logo cercado pelos garçons recebendo um tratamento de celebridade. Até uns turistas que estavam próximos, sacaram suas câmeras digitais e começam a tirar fotos.
- Excelência! Boto a sua mesa lá perto da água como o senhor gosta? Perguntou um garçom.
- Os camarões estão fresquinhos! E as lulas também! Disse outro.
Nesse meio tempo se aproxima o gerente com duas garrafas de vinho português e diz.
- Esse vinho é de uma safra excelente. Estava guardado para o senhor.
O Nobre Edil olhou bem para o gerente e disse: - Vamos ali ao canto, quero ti falar uma coisa.
Você acha que eu trouxe meus netos e minha velha aqui para tomar vinho importado, comer lula e camarão sentado perto da água? Você está doido! Eles vão sentar é naquela toalha velha e no sol, aproveita e arruma um refrigerante de dois litros, e manda fritar meia dúzia de pastéis. Com esse sol quente na cara a mulher não vai agüentar e rapidinho vai pedir para ir embora.
Passada quase meia hora de espera, vem o garçom com o pedido na bandeja, e antes de sair deseja “um bom apetite para todos” com um ligeiro sorriso nos lábios. O que foi o bastante para aumentar o mau humor da mulher que já suava em bicas.
- Olha aqui seu safado! Quando você traz a sua amante aqui, comem do bom e do melhor, mas agora quer empurrar na sua mulher e nos seus netos pastel de vento e esse refrigerante vagabundo?  E ainda por cima debaixo desse sol de lascar?  Jogando em seguida a bandeja na cara do já nem tão nobre assim, devido alguns generosos goles da branquinha bebidos escondidos.
Devido ao vexame passado naquele dia pelo parlamentar. Tanto a Primeira como a Segunda Dama, ficaram muito tempo sem serem convidadas a voltarem àquela praia. Para tristeza delas e principalmente dos garçons que ficaram sem suas polpudas gorjetas.

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