quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Pirata


O PIRATA

Durante a época da pesca da Sardinha, é muito comum em Armação dos Búzios chegar barcos de outras cidades e até outros estados. São grandes barcos que vem em busca de isca viva para a pesca do Atum.
Certa vez um destes barcos ficou ancorado uns dias em Búzios e quando partiu deixou uma carga meio pesada para trás. Deixou um dos tripulantes que era uma verdadeira mala sem alça, e quando bebia enchia o saco de todo mundo, e a tripulação metia a porrada no cara. Só que desta vez a coisa foi mais séria, o cara tinha puxado uma faca para um dos pescadores e o comandante resolveu deixar o cara para trás. E o pescador abandonado que já conhecia uma meia dúzia de pescadores da cidade e resolveu ficar por aqui um tempo, segundo ele, para tirar o cheiro de peixe entranhado no corpo.
O cara era baixinho e bem troncudo, andava com aquele gingado de malandro e tentava imitar o sotaque carioca, mas não conseguia esconder que era paulista, ô meu. Andava com um lenço estampado de caveiras na cabeça, daí foi batizado pela galera como Pirata. Ele era pau para toda obra, se precisassem de um pedreiro ele se apresentava, segurança também era, apesar de ter pouco mais de um metro e meio de altura, Se alguém queria comprar lagostas, lulas, polvo ou camarão ele saía correndo em busca do produto, na certeza de faturar algum em cima, além de oferecer passeios de barcos aos turistas. Em uma ocasião a turma do deixa disso teve de intervir quando ele possesso queria estrangular um argentino, que ao perguntar para ele o seguinte:
- Senor?
El barco és tuyo?
Foi aí que o Pirata perdeu o freio e partiu de dedo em riste para o gringo.
Olha aqui, seu gringo safado, o barco é de pescador mais é muito limpinho, eu mesmo o lavei hoje cedo e você vem para cá dizer que o barco é tujo, e ainda não sabe nem falar direito português, não se fala tujo, se fala sujo.   
E os argentinos foram embora sem entender o motivo da grande revolta do pescador.
Em outra ocasião ele tentava vender passeio de escuna para uns americanos que, queriam saber onde ficava o banco do Brasil para trocar dólares e ele me parou na rua e perguntou:
- Amigo, você sabe com se diz rua em inglês?
- Sei sim Pirata, é street.
- Valeu meu amigo. Disse ele. E em seguida virando-se para os americanos falou:
- Olha aí gringo. Disse com o braço esticado para frente.
O banco do Brasil fica quatro street para lá.
E foi embora deixando os gringos sem entenderem nada.
Este cidadão que ninguém sabia o verdadeiro nome e nem a sua verdadeira origem, proporcionou no tempo que ficou na cidade muitas alegrias a quem conviveu com ele, mais também arranjou inimigos, tanto que ele morreu baleado no campo de futebol da Sociedade Esportiva Buziana, popularmente conhecida como SEB.
Dizem que o cara até na hora de morrer ele fez quem estava presente dar gargalhadas, já que mesmo caído e sem condições de ficar de pé devido à gravidade dos ferimentos, ele falava com a galera:
- Vamos lá minha gente, dá tempo ainda de me salvar, é só vocês me socorrerem rapidinho que dá tempo. 
E foram suas últimas palavras.

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