sábado, 11 de agosto de 2012

PARA O DIA DOS PAIS


UM DIA INESQUECÍVEL

- Pai segura minha mão, será que a água ta fria?
- To segurando filho, to segurando, vamos logo entrar na água para tirar essa areia, você ta parecendo um bife a milanesa. Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida, eu tinha monopolizado a atenção do meu pai por um dia inteiro. Eu devia ter uns oito anos de idade e meu pai nunca tinha tempo para sair com os filhos.
Alguns dias antes o pai tinha combinado uma visita à casa de um irmão que morava de frente para o mar e chegou para mim e disse: você quer ir comigo no sábado a casa do seu tio e depois irmos à praia? Claro que quero pai. Quero muito ir com o senhor. E não consegui dormir direito até o sábado, onde fui o primeiro acordar na casa e em seguida fui acordar minha mãe para preparar o café.
- Já está pronto filho? Já sim senhor. Então vamos. Eram umas oito horas da manhã.
Nós morávamos na Vila Naval no bairro do Alecrim onde só era permitido morar militares da marinha, e tínhamos que pegar um ônibus para ir até a Praia das Areias Negras, onde fica o Forte dos Reis Magos, atração turística de Natal, no estado do Rio Grande do Norte.
Depois de alguns quilômetros chegamos ao ponto final do ônibus, que ficava há algumas dezenas de metros da praia, mas minha ansiedade era tamanha que nem minhas pernas ainda bem curtas sentiriam a distancia a ser percorrida.
- Ta com sede filho? To não pai, eu quero é chegar logo.
- Mas eu tô, vamos fazer o seguinte: tem um bar ali na frente, enquanto eu bebo uma cerveja, você bebe um guaraná e depois vamos à casa do seu tio. Ta bom pai, eu também tenho sede.
- Quanto tempo meu irmão? Até parece que você mora em outro país, nunca vem me visitar, e esse meu sobrinho? Ta um garotão cada dia maior. Disse isto passando carinhosamente a mão na minha cabeça. – Vamos lá para varanda detrás, tomar um café e depois você vai ficar sabendo o motivo que eu ti chamei aqui.
Esse meu tio era advogado, tinha uma situação financeira bem tranquila e era bastante influente nos meios políticos, e o motivo do convite ao meu pai para visitá-lo era que mesmo ele sendo militar e impedido de votar, era um formador de opinião já que mostrava sinais claro de fazer parte de uma igreja evangélica, e o meu tio tinha objetivos políticos em mente.
Passado algum tempo, após as considerações finais e já agendada uma nova reunião e eu com uns trocados no bolso dados pelo meu tio, como que era de praxe toda vez que me via, fomos visitar o forte Reis Magos e em seguida para praia.
Enquanto meu pai tirava a calça comprida, e fazia uma espécie de tenda para nos abrigar do sol, eu olhava extasiado com uma mistura de medo e alegria para aquele mar azul infinito. Medo por lembrar-se da viagem que fizemos de navio do Rio de Janeiro a Recife em que passei muito mal e quase morri, e alegria de toda criança em ver aquele vai-e-vem das ondas quebrando na areia e deixando amostra os tatuís que rapidamente se enterravam fugindo das gaivotas e as gaivotas fugindo de mim ao me aproximar da água.
Passamos o dia brincando entre a água e a areia, meu pai quando entrava no mar me levava nas suas costas agarrado em seu pescoço, enquanto dava braçadas fortes, típicas de quem tinha uma enorme intimidade com o mar. Ele era um verdadeiro homem do mar.
Pai ! Aquele dia foi inesquecível para mim. Acredito ter sido o único dia da minha vida onde pude ter a sua quase total e exclusiva atenção . Sinto muitas saudades, meu pai! Onde você estiver, não esqueça de mim. Um dia estaremos juntos outra vez. 

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