BAR NASCIMENTO
( Este texto foi publicado no Jornal O Perú Molhado)
( Este texto foi publicado no Jornal O Perú Molhado)
O fechamento do Bar Nascimento no último sábado 29/08/ 2008 me fez voltar no tempo, precisamente a 1983 quando foi lançado o filme Bar Esperança dirigido e estrelado por esse carioca fantástico Hugo Carvana, e que contava com um elenco maravilhoso do cinema nacional.
O Bar Nascimento ao contrário do filme, não houve ninguém com planos mirabolantes e nenhum movimento de resistência contra o fechamento, e muito menos alguém se oferecendo para se acorrentar aos cactos do telhado. Alguns até gostaram, já que não vão ter mais sua foto no mural do bar, que já foi chamado até de Pedra Preta pelo Sandro Peixoto que depois disso fez muita gente parar de beber e entrar para igreja, não necessariamente nesta ordem.
O Bar Nascimento foi nestes anos todos, ponto de encontro de vários segmentos da sociedade fosse o mais humilde morador, um eletricista, pedreiro, poetas buscando inspirações e jornalista garimpando uma matéria ou um bom texto, médico, corretor imobiliário, um internacional astro da música ou cinema, alguém do high society carioca, um ex-governador que sempre passava para tomar um cafezinho, ou turistas que adoravam aquele burburinho diário. Lá de tudo se discutia um pouco: Sobre pescaria, era ponto tradicional de pescadores. Futebol era o dia inteiro, alem de ser a sede do Clube dos 500 com seus inúmeros troféus nas prateleiras, já que foi uma potência no futebol local, (juntamente com o Foguinho do Nanca), vermos jogo de futebol em bar é sempre melhor do que em casa, pois nos dias de jogos o bar virava um verdadeiro maracanã, principalmente quando o clássico era com o time do Silvano, Vasco da Gama contra o Flamengo. Era lá que todos se reuniam para suas comemorações, fossem de vitórias coletivas ou individuais. Dizem até que depois que o Marcelo do Peru levou o Silvano para assistir Vasco e Boca na Bombonera, o Vasco nunca mais jogou e nem ganhou nada. Também se discutia política, muito política. Eu acompanhei muitas vezes algumas discussões sobre emancipação de Búzios que para muitos seria maravilhoso e para outros uma verdadeira desgraça, já que ficaríamos completamente abandonados. Depois se discutiu eleições e dali saiu um vice-prefeito.
Dali saiu muitos negócios, casamentos e também separações, brigas e reconciliações, que para alguns era um segundo escritório e para muitos era o verdadeiro escritório.
Muitos freqüentadores que já partiram desta para melhor, devem estar possessos de raiva com o Silvano, aonde eles vão bater um papo com Joanês e outros, que as pessoas quando passam acham que estão falando sozinho?
Com certeza o Bar Nascimento vai deixar saudades, muitas saudades. Afinal, era onde se bebia uma cerveja em garrafa mais barata do que uma Long Nech de outros bares, onde o Guilherme saia da Padaria para tomar um limão no fim da tarde, onde você era atendido por pessoas falando português, onde você podia sentar sem ser incomodado por algum garçom mal humorado te empurrando um cardápio dizendo que para sentar tem que consumir algo, e principalmente onde você ficava sabendo de todas as fofocas da cidade, afinal todos os jornais da cidade eram encontrados ali.
Sua festa de despedida poderia ter sido um grande evento, mas o Silvano preferiu fazer uma coisa mais simples de porta fechada, com um churrasco, cerveja á vontade, e uma batucada meia fora do tom, que deixou alguns antigos ex-frequentadores que vieram se despedir, até meios que perdidos cercados à neos freqüentadores de último dia presentes ao local.
Valeu Silvano! Afinal de contas ficar 27 anos atrás de um balcão deve ser chato para cacete.
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