quinta-feira, 29 de abril de 2021

Alvará

 

ALVARÁ

Um amigo radicado em Búzios, porém oriundo da cidade de Araruama, famosa pela lagoa do mesmo nome no Estado do Rio de Janeiro, me contou uma história sobre um conterrâneo seu que adorava puxar saco de políticos, era do tipo que quando tinha que sair de perto de algum político ia logo dizendo:

- Olha aqui minha liderança, se depois que eu não estiver mais aqui, e o senhor espirrar, saúde está bom?

Na verdade, o cara era um chato. Um verdadeiro papagaio de pirata. Ia todo o dia pela manhã bem cedo à prefeitura para ser o primeiro a dar um bom dia para o prefeito, passava em todas as secretarias e encerrava a sessão de puxa-saquismo na câmara, indo de gabinete em gabinete abraçando todos os vereadores, fossem situação ou oposição.

De tanto encher o saco de todo mundo, pedindo emprego, num determinado dia um secretário conversou com o prefeito e conseguiu um cargo para o cidadão para ver se assim teriam um pouco de sossego já que a fama do funcionário público é o que menos gosta do seu local de trabalho, nem todos.

Mas o problema maior estava por vir quando descobriram que o cidadão não sabia ler. A solução encontrada depois de uma reunião foi que a melhor coisa a fazer era dar um cargo qualquer para ele e estaria resolvido. O problema era que ninguém queria ter o cidadão por perto, e resolveram contratá-lo como motorista embora o dito cujo não soubesse nem andar de bicicleta quanto mais dirigir qualquer tipo de veículo motorizado. O cidadão agora era uma alegria só, andava pela cidade com a carteira no bolso da camisa com o brasão da prefeitura virado para fora para que todos pudessem identificar a “otoridade” como o próprio se achava.

Um dia o sujeito passando pelo mercado de peixes resolveu testar sua “otoridade” perante os comerciantes. Ao parar em frente a uma barraca que vendia camarão mostrou a carteira da prefeitura para o vendedor e foi logo dizendo:

- Cadê o “Alvaral” O certo seria alvará.

- Não tenho não moço. Respondeu o vendedor.

- O quê? Não tem “Alvaral”. Então me dê dois quilos desse camarão, mas semana que vem tem que ter o “Alvaral”. E assim foi durante umas três semanas, camarão de um, peixe de outro, mariscos, siris e até lagostas. Até que um dos vendedores, achando que o sujeito já estava abusando, resolveu ir à prefeitura para denunciar o fiscal contando o que ele estava fazendo, e que para sua surpresa os funcionários da prefeitura caíram na risada com a história, disseram em seguida que ele não era fiscal de nada. O sujeito foi embora furioso e também ansioso para contar sua descoberta para os seus colegas, que ao saberem da farsa, ficaram revoltados e resolveram dar uma lição no falso fiscal na próxima vez que ele aparecesse, o que aconteceu três dias depois num sábado, quando a “otoridade” chegou e saiu andando em meio as barracas, onde em seguida parou em frente a uma barraca e foi logo dizendo:

- Já vi que não tem “Alvaral”.

Essa foi à senha para os barraqueiros caírem de porrada em cima dele, que quando conseguiu se livrar da turba enfurecida, saiu correndo todo torto e nunca mais apareceu na feira e muito menos na prefeitura, findando assim da sua brilhante carreira de Puxa-Saco.

 

 

 

 

 

 

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