ALVARÁ
Um
amigo radicado em Búzios, porém oriundo da cidade de Araruama, famosa pela
lagoa do mesmo nome no Estado do Rio de Janeiro, me contou uma história sobre
um conterrâneo seu que adorava puxar saco de políticos, era do tipo que quando
tinha que sair de perto de algum político ia logo dizendo:
- Olha aqui minha
liderança, se depois que eu não estiver mais aqui, e o senhor espirrar, saúde está
bom?
Na verdade, o cara
era um chato. Um verdadeiro papagaio de pirata. Ia todo o dia pela manhã bem
cedo à prefeitura para ser o primeiro a dar um bom dia para o prefeito, passava
em todas as secretarias e encerrava a sessão de puxa-saquismo na câmara, indo
de gabinete em gabinete abraçando todos os vereadores, fossem situação ou
oposição.
De tanto encher o
saco de todo mundo, pedindo emprego, num determinado dia um secretário
conversou com o prefeito e conseguiu um cargo para o cidadão para ver se assim
teriam um pouco de sossego já que a fama do funcionário público é o que menos
gosta do seu local de trabalho, nem todos.
Mas o problema
maior estava por vir quando descobriram que o cidadão não sabia ler. A solução
encontrada depois de uma reunião foi que a melhor coisa a fazer era dar um
cargo qualquer para ele e estaria resolvido. O problema era que ninguém queria
ter o cidadão por perto, e resolveram contratá-lo como motorista embora o dito
cujo não soubesse nem andar de bicicleta quanto mais dirigir qualquer tipo de
veículo motorizado. O cidadão agora era uma alegria só, andava pela cidade com
a carteira no bolso da camisa com o brasão da prefeitura virado para fora para
que todos pudessem identificar a “otoridade” como o próprio se achava.
Um dia o sujeito
passando pelo mercado de peixes resolveu testar sua “otoridade” perante os
comerciantes. Ao parar em frente a uma barraca que vendia camarão mostrou a
carteira da prefeitura para o vendedor e foi logo dizendo:
- Cadê o “Alvaral”
O certo seria alvará.
- Não tenho não
moço. Respondeu o vendedor.
- O quê? Não tem
“Alvaral”. Então me dê dois quilos desse camarão, mas semana que vem tem que
ter o “Alvaral”. E assim foi durante umas três semanas, camarão de um, peixe de
outro, mariscos, siris e até lagostas. Até que um dos vendedores, achando que o
sujeito já estava abusando, resolveu ir à prefeitura para denunciar o fiscal
contando o que ele estava fazendo, e que para sua surpresa os funcionários da
prefeitura caíram na risada com a história, disseram em seguida que ele não era
fiscal de nada. O sujeito foi embora furioso e também ansioso para contar sua descoberta
para os seus colegas, que ao saberem da farsa, ficaram revoltados e resolveram
dar uma lição no falso fiscal na próxima vez que ele aparecesse, o que aconteceu
três dias depois num sábado, quando a “otoridade” chegou e saiu andando em meio
as barracas, onde em seguida parou em frente a uma barraca e foi logo dizendo:
- Já vi que não
tem “Alvaral”.
Essa foi à senha
para os barraqueiros caírem de porrada em cima dele, que quando conseguiu se
livrar da turba enfurecida, saiu correndo todo torto e nunca mais apareceu na
feira e muito menos na prefeitura, findando assim da sua brilhante carreira de
Puxa-Saco.
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